O Dilema das Redes – Análise e Insights do Documentário Netflix

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Chegou a hora de falar sobre um dos documentários mais discutidos nas últimas semanas: O Dilema das Redes. O novo lançamento da Netflix mistura ficção com informações reais de diferentes profissionais que já trabalharam em grandes companhias de redes sociais.

O Dilema das Redes apresenta a visão de diversos responsáveis envolvidos na indústria da tecnologia, a partir de seus próprios dilemas éticos e pessoais, já que os mesmos também sofrem com o vício e as consequências do uso das redes sociais. O documentário nos lembra que as redes são empresas formadas por acionistas com conjunturas e interesses comerciais. Mas afinal de contas, o que elas comercializam, já que parecem gratuitas? O documentário responde: você é o produto!

Você é o dado que vai alimentar o modelo matemático que chamamos de algoritmo. Esses modelos são baseados em aprendizado de máquina e a partir de um enorme volume de informações pessoais preveem uma série de hábitos. Dessa forma, as redes irão ofertar essas informações como um produto para os anunciantes e eles por sua vez irão fazer anúncios específicos e segmentados através do comportamento digital de milhares de pessoas. O algoritmo monitora diversas ações que fazemos. Como, por exemplo, o tempo em que permanecemos em uma imagem ou vídeo e onde clicamos na tela com mais frequência.

As redes sociais possuem sim pontos positivos. Elas são como um carro. Pode ser uma ferramenta que vai te ajudar a se locomover, mas também pode se transformar em uma arma que vai tirar a vida de alguém. Para entendermos melhor como tudo isso funciona, vamos analisar algumas informações bastante úteis.

  • Redes Sociais e Fake News

Diversas notícias falsas são construídas para serem irresistíveis para nós. Isso acaba gerando uma irresponsável utilização de dados e consequentemente a manipulação. Esse é um dos aspectos negativos do aprendizado de máquina e é nesse ambiente tecnológico onde encontramos as bolhas de informação. O algoritmo tende a te mostrar apenas as coisas que são do seu interesse, criando uma falsa sensação de que todos concordam com você. O que precisamos entender é que cada pessoa irá receber um tipo de resultado quando fizer alguma pesquisa no google, pois o algoritmo é extremamente personalizado.

Esse é o cenário perfeito para a polarização que vem dividindo a opinião das pessoas. Ou é 8 ou 80. Ou é certo ou errado. Sempre que tentamos pensar de forma mais crítica, somos combatidos com mais veemência pelo contexto em que estamos imersos.

  • A estratégia do clickbait

É interessante também falar sobre as capas dos vídeos no Youtube. Quando a capa de um vídeo é condizente com o conteúdo proporcionado, as pessoas tendem a não clicar. Em contrapartida, quando você usa a estratégia do clickbait, apresentando uma capa persuasiva e apelativa e que na maioria das vezes não tem nada a ver com o conteúdo, as pessoas tendem a clicar. Isso faz com que esse tipo de conteúdo seja mostrado mais vezes para mais usuários, podendo ser muitas vezes a causa de preconceito e manipulação.

  • Autoestima

Além de todo o lado técnico sobre o assunto, temos problemas realmente profundos da nossa sociedade acontecendo. Crianças e adolescentes estão mais expostos a isso e o número de pessoas que se sentem insatisfeitas e ansiosas em relação à sua própria vida aumenta cada vez mais. As redes sociais podem não ser a causa, mas são a consequência e neste ciclo tudo está interligado. Temos o costume de nos comparar com outras pessoas e achar que não somos bonitos o suficiente, pois tudo o que vemos são peles e corpos perfeitos. Acabamos esquecendo que tudo é uma ilusão gerada por filtros que não condizem com a realidade de nossas peles e corpos.

O que podemos aprender com tudo isso?

Gostaria de compartilhar uma definição de algoritmo que me marcou muito: ‘’Algoritmos são opiniões embutidas em códigos’’.

Isso mostra que eles são sobre você, sobre eu mesma. somos nós, como pessoas, tendo preferências e comportamentos que são exponencialmente exibidos, criando esses modelos que nos induzem. Para ‘’quebrar’’ o algoritmo é preciso entender a nossa responsabilidade dentro disso e o documentário eleva coisas positivas mas também traz a tona, de uma forma brutal, o pior lado da sociedade.

É importante entender que a otimização do algoritmo está direcionada para um objetivo: o sucesso comercial. O documentário faz uma crítica à como a educação digital ainda é pouco discutida. Não lemos termos de uso, não entendemos nada sobre inteligência de máquina, mas as redes sociais ainda estão presentes no nosso dia a dia.

A crítica é que leva a uma solução melhor. Não é sobre reclamar, nem ser pessimista. É sobre olhar para uma situação e se questionar, pois aquilo que não nos incomoda, nos acomoda. Mas e agora, o que devemos fazer? Abandonar o celular e morar numa cabana no meio do mato? Ou vamos permanecer nas redes? Tudo bem se questionar. Isso é o pensamento crítico. A partir do incômodo, virão soluções melhores para esse dilema. E para me despedir de vocês, deixo uma frase citada no documentário: ‘’Os críticos são os verdadeiros otimistas’’.

Espero que vocês tenham gostado do conteúdo e que possamos refletir cada vez mais sobre como ter uma relação saudável com as redes sociais.